A distância que separa o voto histriônico, grotesco e cafona do deputado federal Wlad Costa, do Pará, pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff do presente que vivemos pode ser medida cronologicamente ou necrologicamente. Na primeira hipótese, chegamos a quase quatro anos; na segunda, temos 100 mil mortos só pela Covid-19. E não me venham dizer que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Vos advirto: a cena protagonizada pelo acéfalo parlamentar – e por outras centenas deles – é responsável direta pelos caixões empilhados em Manaus, pela falta de sedativos para intubação, pela carência de leitos de UTI, pela produção criminosa de cloroquina ou, simplesmente, pela ausência de empatia nos altos escalões do executivo nacional. Há muito sabemos que não é possível desencadear os fatos e que a borboleta que bate as asas na China planta o caos aqui, nessa terra de mandatários chinfrins e asininos.
Os facínoras engravatados de Brasília nos mostraram o quanto são especialistas no pior. Não há pior que não possa melhorar, é sua máxima. Imbuídos desse espírito, permitiram que um sociopata, fascista e genocida (aliás, perfil bem próximo do citado deputado), comandasse nosso combalido país, consolidando o projeto de matar as almas e os corpos brasileiros, torturando com requintes de prazer a Educação, a Cultura e a esperança. Felizes os que sobreviverão. Ou não!
Mas, claro!, não podemos deixar de citar os que se omitiram, os que se calaram diante do iminente assassínio do estado democrático. E não foram poucos. Dezenas de milhões de compatriotas uniram-se em silêncio abissal e vendaram os olhos perante as atrocidades cometidas por parcela generosa dos membros do legislativo federal, boa parte roubando o erário há décadas. É provável que sejam os mesmos silentes que fecharam os olhos e jogaram no ventilador o atual presidente. São todos cúmplices. Cada cadáver inserido na planilha do descaso traz no amargor de seu desenlace o DNA dessas pessoas.
Mas há os que tentaram, com as armas que tinham, impedir tal descalabro, ou, pelo menos, alertar seus pares que o precipício estava próximo e que andar para trás não era uma atitude sensata. Sim, e por mais incrível que isso possa parecer, éramos minoria. Caminhamos céleres e felizes para o abismo.
Agora, se você perdeu alguma coisa dos últimos seis anos - esse tempo esdrúxulo que caiu sobre nós -, e mesmo se não perdeu e quer relembrar, uma dica de ouro é “Humor nos Tempos do Golpe”, publicação que comemora os 35 anos de carreira do cartunista e jornalista Paulo Emmanuel. Além da apresentação suntuosa do artista (artista se ama, né, gente?!), de inúmeros depoimentos sobre ele – claaaro! – e dos detalhes de seu extenso currículo, o livro está mais recheado do que as malas do Geddel. Dá para acompanhar o roteiro bizarro de 2015 a 2020 através de charges e cartuns ácidos e mordazes. E é um daqueles itens para se ter e enfeitar a estante.
Não espere sutilezas, o momento não as permite. É hora de ser direto, incisivo, e Paulo não deixa por menos. Ele fustiga os donos do poder como um lobo a bafejar em seus cangotes, os caninos prestes a encontrar a jugular, o jorro de sangue a nos lavar a alma e acalmar os corpos. Ele, por vezes, desenha aquilo que desejamos falar ou fazer – e isso não é pouco. Sem contar que um traço de Paulo Emmanuel tem mais neurônios do que toda a famiglia que se apossou de Brasília.
Coincidência ou não, esses 35 anos de carreira batem com nosso tempo de conhecimento e amizade, lá dos corredores da Comunicação Social da UFPa. Nosso trabalho mais profícuo foi o jornal “O Boêmio” – aliás, senti falta dele! -, distribuído em São Paulo na última década do século passado, em cujas páginas foi gestado – adivinhem! - “O Boêmio”, personagem de mais de 700 tiras publicadas no extinto “A Província do Pará”.
Para terminar, não custa nada dizer que Paulo Emmanuel é gente boa, muito boa. Alguém para levar no coração – e a uma mesa de bar - para o resto da vida. Parabéns, amigo! Vamo tomá uma!
O livro “Humor nos Tempos do Golpe” será impresso pela Imprensa Oficial do Estado do Pará (Ioepa) e está em fase de pré-venda. Quem quiser colaborar como apoiador ou patrocinador pode entrar em contato com o próprio Paulo Emmanuel. Parece que rola até uma caricatura no livro.
E-mail: pauloemman@yahoo.com.br
WhatsApp: (91) 98452-3228.
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